Acuados nos becos, lendo anúncios em sacolas de lixo... O que conduz um indivíduo a resignar-se a viver entre dejetos e ainda assim dar-se por satisfeito? Em que período da vida as almas carentes tornam-se pobres? Melhor dizendo, quem as condiciona a aceitar de bom grado a miséria como única herança? Fato é que nascemos idênticos quanto ao potencial de criação, porém, ora por determinação do meio social, ora por cansaço de perseguir a luz alguns tropeçam pelo caminho. São almas pequeninas, que injustiçadas seguem na vida tendo como esperança de coroação quem sabe apenas uma derradeira promessa divina! E alegram-se aos domingos, seus momentos de prazer limitam-se aos gritos de gol proferidos em meio aos risos, nos bares das esquinas de casa. Sim, são almas adestradas, conformando-se, cegamente, a pior fatia do bolo! Afinal, com sorte levarão escondidos para casa um copo plástico repleto de salgados!
Todavia, o que dizer daqueles que reconhecem o peso do castigo ao qual foram condenados, mas não se libertam dos grilhões da sociedade? São almas fluorescentes, que seguem amarguradas, impedidas de combater as trevas muitas vezes não iluminam nem o próprio caminho! Animais ariscos, seu tormento maior, sua cruz mais pesada? Afinal de contas, em qual coração residirá a maior amargura no do cego que foi privado da luz ou no daquele que jamais a reconheceu?
Há quem diga que o sofrimento dos esclarecidos é o mais devastador de todos, entretanto, ao mesmo tempo há quem defenda que esse sofrimento, geralmente, é a alavanca que aciona as grandes revoluções sociais. Fato é que não quem diga que a melhor maneira de lutar é com as mãos atadas! Sim, saímos em desvantagem! Ainda assim talvez a solução seja a mobilização desses seres em prol de um bem comum, mas como movimentar um povo cansado? Logo, acuadas as feras indomáveis exibem a sua revolta, contudo, cansadas sabotam a si mesmas, como o escorpião por descuido provam do seu próprio veneno.
Um comentário:
Entendi... É verdade, de fato, aqueles que se acostumaram com a vida medíocre concedida pelo Estado, não sofrem tanto quanto aqueles que veem a injustiça e sabem como isso pode mudar. O motivo desse sofrimento, talvez seja porque poucos são aqueles que também estão insatisfeitos e que desejam mudar algo, para que possam compartilhar ideias e esses sentimentos reprimidos. Se houvessem mais pessoas assim, então haveriam grandes revoluções!
Ótima crônica, amor.
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